Brasil, Brasis e Brasília

" (...) sendo um só Brasil é também uma constelação de brasis; possuindo um valioso passado "útil" ou "utilizável", defronta-se com um futuro cheio de desafios à sua capacidade de ação orientada pelo que, nas suas elites e no seu povo, seja imaginação criadora. Imaginação científica associada à poética" 

Gilberto Freyre, no prefácio do livro Brasil, Brasis e Brasília

Tomei emprestado de Gilberto Freyre (antropólogo, sociólogo, historiador, escritor e pintor - ufa!!!) o  título para esse post. E não foi à toa. Eu gosto de ser brasileira. Sei que temos muitos problemas sociais, fome e miséria, mas a natureza foi tão pródiga com o nosso país! Não é verdade? Se pensarmos nos desastres naturais, que ocorrem com frequência em várias partes do mundo, podemos concluir que (os desastres) matam nosso povo muitas vezes por falta de consciência dos nossos governantes. Impostos arrecadados não são devidamente canalizados para o bem comum. O quadro é esse. Mas vamos pensar um pouco no que fazemos para melhorá-lo. Será que realmente agimos de modo civilizado? Tenho minhas dúvidas.

Certo professor baiano estava num país da Europa, acho que a Suécia, fazendo um doutorado e morando no Campus da Universidade. Assim ele era um dos primeiros a chegar ao prédio onde tinha aulas e ficava observando da janela o estacionamento. As pessoas que vinham de carro e chegavam mais cedo estacionavam mais distante da entrada do edifício. Ele achou isso estranho, quando viu pela primeira vez, e à medida que os dias passavam, mais a sua curiosidade aumentava. Ora, pensou ele, se o aluno chega mais cedo e tem vagas à vontade, por que estaciona longe da entrada?

Passado um tempo, não suportando mais a curiosidade, questionou a um colega esse costume dos outros alunos. O outro, com naturalidade, respondeu: “Se chegamos mais cedo podemos caminhar um pouco mais e isso não nos faz atrasar para a aula. Se alguém chega mais tarde, estacionando mais próximo, se atrasará menos.”

Lição de moral? Não. Lição de civilidade.

Lembrei-me dessa história do professor ontem à noite quando presenciei um fato. Cerca de quinhentas pessoas trabalharão, em regime de turno, 24 horas por dia. A empresa não permite entrar portando bolsas e demais objetos pessoais. Para isso distribuiu armários e cadeados (esses) para todos.  Ocorre que existem menos armários que pessoas, por falta de espaço. A solução é simples: ninguém é “dono” do armário que deve ficar aberto quando não estiver sendo utilizado. Ao chegar o funcionário deverá guardar seus pertences, passar o cadeado e levar a chave para a sala de trabalho. Ao sair deverá retirar seus objetos e deixar o armário para outro. A instrução foi clara e precisa.

Minha surpresa foi observar que mal saiam das salas as pessoas corriam para os armários, escolhiam os que estavam melhor posicionado, passavam o cadeado, deixavam o armário vazio, guardavam as respectivas chaves e iam para casa.  O que vai acontecer é muito simples: vai faltar armário!

Lição de civilidade? Não. Lição de egoísmo.

E assim, se formos pensar mais um pouco, com certeza vamos lembrar diversas histórias como essa dos armários. Agora mesmo já me ocorre outras, recentes, que aconteceram em 2011. No Rio de Janeiro, após a enxurrada que dizimou casas, bairros e matou várias pessoas, os preços dos aluguéis e alimentos aumentaram, em função da demanda. Doações foram roubadas por militares! No Japão, após a tsunami que devastou parte do país, os preços dos alimentos e aluguéis... Baixaram!  

Ah! Mas trata-se de um país rico, com tradição milenar. Alguns podem argumentar. Sim, e daí? Somos um país jovem, com 500 e poucos anos. É verdade. Fomos colonizados pelos portugueses. Sim, é verdade. Há uma mistura muito grande de raças no Brasil. Sim, é verdade. E daí? O que falta em nós? Educação? Vergonha? Falta de senso?

Meus amigos eu tenho procurado pensar de modo diferente... É hora de mudarmos esse panorama. Depende de pequenas atitudes, como essa de simplesmente deixar o armário aberto para o outro também utilizar.

Adilma