terça-feira, 23 de novembro de 2010

Glória Maria, Índia e Bahia



Domingo à noite assisti a entrevista que Marília Gabriela fez com Glória Maria, repórter da Rede Globo. Ambas as mulheres muito inteligentes, cultas e bem sucedidas. Glória ficou dois anos afastada do emprego, mas ainda contratada. Nesse período, segundo ela, trabalhou em abrigos de crianças abandonadas, primeiro na Índia e depois um ano em Salvador, na Bahia. Ela relata que em comum a Índia (não especificou nenhuma cidade) e Salvador tem o fato das mulheres terem muitos filhos, mesmo sem condições financeiras para isto. Disse ainda que essas mulheres simplesmente fazem sexo não por prazer, mas para agradar ao homem e sentirem-se no papel de “mulheres”. Em Salvador Glória adotou duas irmãs que conheceu num dos abrigos.

Continuou dizendo que as mulheres na minha cidade tem cinco, sete filhos, depois vão para debaixo do viaduto, sem nenhuma condição de mantê-los, e chegam a abandonar as crianças. Tomei como surpresa essa afirmativa. Como moradora isso não me salta aos olhos. Será que quando estamos perto demais passamos “batido”? Não percebemos? Não enxergamos a realidade? Para mim em média são dois filhos, na maioria das famílias. Logicamente que quanto menos poder aquisitivo, menos estudo, maior o número de filhos, mas na capital do estado, de cinco a sete crianças? Achei estranho.

Não tenho um milésimo da bagagem cultural de Glória Maria, nunca tive contato com esses abrigos, não tenho estatísticas sobre o assunto, não conheço a Índia, não conheço todos os estados brasileiros, reconheço minha ignorância. Em razão disso, no dia seguinte, procurei no site do IBGE informações sobre a taxa de natalidade atual e assuntos correlatos. Acertei na média de filhos por casal: são dois mesmo. Procurei em sites da prefeitura, de jornais locais, etc. Não encontrei nenhuma informação consistente, mas descobri que Salvador tem proporcionalmente no Brasil o maior número de mulheres chefes de família. São essas mulheres realmente irresponsáveis?

A atitude na adoção das crianças, por parte da repórter, foi louvável. Ela pertence a uma elite formadora de opinião e se fosse eu escreveria um livro. A forma como descreveu o encontro com as meninas e a decisão de adotá-las foi mágica e muito emocionante. Isso certamente iria ser muito positivo e servir de exemplo para muitas pessoas.

Ela pecou, em minha opinião, no momento em que simplesmente falou como se Salvador fosse um depósito de meninos e meninas abandonados. Não gostei. Acho necessário que numa afirmação assim dados reais e consistentes sejam passados. Sei que o teor da entrevista não foi esse, mas pela experiência profissional que tem, acho que Glória deveria ter sido mais cautelosa. Mitos e preconceitos nascem assim.



Adilma

2 comentários:

  1. E o telespectador sempre vai achar que tudo que ela está dizendo é a mais pura realidade, o que não é verdade, né?
    Bonito trabalho da Gloria, mas ela também teve uma dose de preconceito com os nordestinos.

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  2. Fico imaginando se ela fosse branca!
    Eu sinto esse preconceito com os Brasileiros que vindo da parte sul do Brasil. Eles acham que todos os nordestinos sao preguicosos e vivem nas costas do governo. Depois desse tal de bolsa familia a situacao piorou e muito. Nao suporto a ironia que recebo. O pior de tudo e' que nao conheco ninguem da nossa familia que esteja recebendo ou ja recebeu ajuda do bolsa familia.
    Nordestinos(principalmente Baiano) e Carioca sempre tiveram o esteriotipo de nao querer fazer nada. Nos pagamos o preco por algo que nao e' verdade.

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