Envelhecer é bom?

Algumas frases feitas a respeito de envelhecimento das pessoas me deixam pensativa... Como por exemplo: “Envelhecer é uma arte”. Se alguém me explicar ONDE está a “arte” em envelhecer eu agradeço, e ao mesmo tempo dispenso a explicação. Talvez, vejamos – T A L V E Z, advérbio que denota dúvida – seja bom prá uns. Para mim? Não. De jeito nenhum!

Viver é maravilhoso? Claro! E quero viver muito ainda. Só que viver é melhor quando temos juventude. Como diz alguém que conheço: “o jovem não sabe o poder que tem!”. E é fato. Não sabe mesmo. Se soubesse o mundo seria subvertido. Quando temos juventude não temos sabedoria e quando ela chega... É tarde demais.

É o que podemos chamar de LEI DA COMPENSAÇÃO. Geralmente quem é muito bonito não tem muita inteligência, quem tem muita inteligência não é tão formoso. Pense rápido: qual cientista conhecido é lindo? Algum Prêmio Nobel de Física, Química, Literatura, Medicina ou qualquer outro, poderia desfilar numa passarela usando um modelito charmoso? Seria galã ou diva do cinema? Protagonista da novela das 8? Acho que nenhum. NENHUM senhoras e senhores!

Não faço apologia à beleza, nem à juventude, muito menos venho aqui pregar o extermínio ou maus tratos aos idosos. Falo por mim, tão somente. Sou apenas uma pessoa prática que odeia, mas odeia mesmo envelhecer e ser tratada como “coroa” e ”tia”. Também não quero ser chamada de avó. Meus filhos sabem disso.

O pior de tudo é que os anos passam rápido demais. Eles atropelam a nossa vida, trazem mudanças irreversíveis, doenças crônicas, solidão, esquecimentos, mazelas. Onde está a beleza disso? Onde?

Virou moda chamar todo mundo de tio e tia, como se parentesco a gente encontrasse na esquina. Um dia eu estava na praia quando uma mulher de uns 20 e poucos anos veio e me perguntou:

- Tia, que horas são?

Olhei para a “criatura” e devo ter transmitido telepaticamente o que estava pensando porque senti que ela murchou. Respondi:

- Ãhhh.... Em primeiro ligar, bom dia! Em segundo lugar, tenho duas sobrinhas e nenhuma das duas é você.

Fui deselegante mesmo. E ela? O que me dizem? Tia??? Ah! Ela saiu sem saber as horas, é claro.

Quando Nanda tinha uns 15 anos eu a levei numa festa. Como não tínhamos certeza do endereço, ao chegar à portaria do prédio ela saltou do carro e foi questionar ao porteiro:

- Tio, boa noite, a festa de (disse o nome da pessoa) é aqui?

No mesmo instante chamei minha filha e a repreendi. Tio? Me poupe! Desde quando ele é seu tio? Trate-o como senhor.

Meus filhos estudaram em escolas que felizmente não utilizam esse falso parentesco (chamar professores de tio e tia) como metodologia pedagógica. E, sinceramente, essa foi uma das razões que me levaram a escolher as escolas...

Também não pensem que sou favorável a cirurgias plásticas, injeções de botox, dezenas de pílulas à base de cérebro de feto (sim, existe isso) como formas de rejuvenescimento forçadas. Podemos esticar as rugas, construir a boca da Angelina Jolie, moldar a barriga de tanquinho da Christina Aguilera, preencher a panturrilha, ter a bunda da mulher melancia, mas ainda não existe cirurgia plástica para estrutura óssea, nem para nenhum órgão vital. Aumentam-se os seios, mas o cérebro continua com o mesmo número de neurônios, e eles morrem.

Gostaria de saber transmitir o que sinto em relação aos anos como Fernando Pessoa, no seu lindo poema ANIVERSÁRIO, cujo trecho segue adiante:

“... Pára, meu coração!

Não penses! Deixa o pensar na cabeça! Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus! Hoje já não faço anos.

Duro.

Somam-se-me dias.

Serei velho quando o for.

Mais nada.

Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...”

Adilma