Meu pai era um homem que servia de referência na rua onde morava, não apenas pelo jeito durão, mas principalmente pelo fato de ser extremamente disposto a ajudar em casos complicados. Ele costumava dizer que ninguém ia encontrá-lo num bar bebendo, mas se alguém passasse mau à noite podia bater na porta que ele ia levar para um hospital, sem problema.
E assim ele realmente agia. Essa história que passo a relatar adiante nada tem de alegre, mas reflete os dois lados de Seu Adelmar que não deixava barato nada.
No início da década de 80 o filho adolescente de um vizinho nosso foi à praia da Pituba (em Salvador) com uns amigos, todos jovens, e morreu afogado. Impossível explicar como ficou a família. O pai desesperado sem saber o que fazer. O corpo foi arrastado para longe.
O pai do rapaz pediu a meu pai para ajudar, pois ele não tinha condição nenhuma de fazer isso. Estava arrasado. E meu pai passou os três dias seguintes indo de praia em praia. Ao final do terceiro ou quarto dia encontraram o corpo em Itapuã, se não me engano.
Meu pai ajudou a puxar de dentro d´água. Foi terrível. Ainda hoje lembro de como meu pai chegou em casa, transtornado. A família do rapaz em completo desespero. O pai do menino, sem condições de fazer o enterro, pediu dinheiro emprestado a meu pai que prontamente atendeu, mas frisou que era um empréstimo. E assim foi feito.
Passaram-se os meses e, sem mais nem menos, o pai do menino começou a se esquivar de passar pela frente do armazém de Seu Adelmar que ia ficando cada vez mais indignado com a situação.
Até que um dia bateram-se de frente, na rua. Meu pai então cobrou a dívida. O homem, chateado por ter sido cobrado respondeu:
- A senhor é um desgraçado! Como pode me cobrar uma dívida dessas???
Prontamente meu pai respondeu:
- Pois foram as mãos desse desgraçado que tiraram o corpo do seu filho em decomposição de dentro da água. Foram as mãos desse desgraçado que tiraram o dinheiro da carteira e lhe emprestaram para que SEU filho não fosse enterrado como indigente. E é esse desgraçado que lhe acha um verdadeiro canalha sem palavra.
O homem baixou a cabeça. A dívida? Nem sei se pagou. Mas nunca mais eu o vi conversando com meu pai...
Adilma
Tio Adelmar nao era nada mais nada menos que um filosofo. O ultimo video que fiz com o mesmo contando um pouco de sua vida sera eterno. Guardo com muito carinho. Ele deixou muita saudade.
ResponderExcluirEstava há +- 1,5 hora trabalhando em uma planilha, resolvi dá uma olhadinda no SOPA.
ResponderExcluirNão aguentei, sorte que estou sozinho na sala.
Eh isso.
E essa eu não conhecia.
ResponderExcluirEh isso denovo.
Triste, mas emocionante relato.
ResponderExcluirAdilma, sempre que puder conte outras histórias de nosso tio, aqui.
Um grande abraço!
ADILMA,agora eu sei a quem eu puxei em muitos relado da vida do meu tio, poi eu sou assim, sempre estou disposta a ajudar os visinhos, porém se não honra com a palavra pode ter certeza que vou dar a resposta na hora certa.
ResponderExcluirÉ Simplesmente impossível não encher os olhos!!!
ResponderExcluirAdilma assim vc acaba com os véios.
Abraço.
Pois é. Meu pai, para quem o conheceu, era isso aí mesmo. Assim que possível voltarei a postar outras histórias.
ResponderExcluirAh... Sílvio... Minha intenção não é matar os véio... Rsrsrsrsrs
Bj a todos!
Eu, que infelizmente não tive a oportunidade de conhecer meu avô Alberto, "adotei" meu querido Tio Adelmar como meu avô. Indescretível a saudade que ele causa a todos, e o orgulho que todos que o conheceram e viveram com ele de terem tido a oportunidade de dividir momentos e histórias como essa.
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